A manifestação de um câncer não tem uma causa única. Há diversas causas externas e internas que podem interagir dando início ao surgimento do câncer.
Apenas 10 a 20% dos casos estão relacionados a causas internas, como hormônios, condições imunológicas e mutações genéticas, que são, na maioria das vezes, geneticamente predeterminadas e estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas.
Alguns tipos de câncer, como os de mama, estômago e intestino, parecem ter um forte componente familiar, embora não se possa afastar a hipótese de exposição dos membros da família a uma causa comum.
Existem ainda alguns fatores genéticos que tornam determinadas pessoas mais suscetíveis à ação dos agentes cancerígenos ambientais. Isso parece explicar porque algumas delas desenvolvem câncer e outras não, quando expostas a um mesmo carcinógeno.
Todavia, 80% a 90% dos casos de câncer estão associados a causas externas. Os hábitos e o comportamento do homem, assim como as mudanças provocadas no meio ambiente por ele, podem aumentar o risco de diferentes tipos de câncer. Entende-se por ambiente o meio em geral (água, terra e ar), o ambiente de trabalho (indústrias químicas e afins), o ambiente de consumo (alimentos, medicamentos) e o ambiente social e cultural (formas de agir e de se comportar).
Existem outros fatores causais de câncer que ainda estão sendo estudados, como alguns componentes dos alimentos que ingerimos são motivos de diversos estudos que vêm sendo realizados, mas existem outros fatores causais que são ainda completamente desconhecidos. Além do mais, o surgimento do câncer depende da intensidade e da duração da exposição das células aos agentes causadores de câncer. Por exemplo, o risco de uma pessoa desenvolver câncer de pulmão é diretamente proporcional ao número de cigarros fumados por dia e ao número de anos em que ela fuma ou já fumou.
Dentre as causas já estabelecidas e fatores de risco emergentes de câncer podemos citar: produtos do tabaco, agentes infecciosos, consumo de álcool, luz solar e radiação ultravioleta, radiação ionizante e radiofrequência, dieta e nutrição, inatividade física/ comportamento, sedentário, obesidade, carcinógenos dietéticos, contaminação do ar, da água, do solo e dos alimentos, riscos ocupacionais, alguns medicamentos.
A Sociedade Americana de Oncologia Clínica tem salientado que a obesidade é um dos determinantes mais importantes de mortalidade por câncer.
Na obesidade, a resistência insulínica está relacionada à resistência à leptina e aos teores plasmáticos reduzidos de adiponectina.
O microbioma alterado também pode ser causa ou consequência da obesidade. Os potenciais mecanismos que ligam microbiota, obesidade e câncer estão relacionados a promoção da inflamação e produção de substâncias promotoras de câncer.
Todavia, uma percentagem significativa de casos de câncer pode ser prevenida através da cessação do tabagismo, aumentando o exercício físico, reduzindo a ingestão de álcool e mantendo um peso saudável, consumindo alimentos ricos em ômega-3, com suas propriedades anti-inflamatórias e antineoplásicas, como peixe, nozes, abacate e azeite, comer carboidratos de baixo índice glicêmico, principalmente no jantar, o que contribui no aumento da produção de adiponectina que exerce função metabólica regulatória e sensibilizadora da insulina no fígado e nos músculos, e ainda atua como citocina anti-inflamatória e vasculoprotetora. Alguns nutracêuticos, como a curcumina, podem regular os níveis de adipocitocinas pró-inflamatórias também, sendo indicado seu consumo tanto preventivamente quanto durante o tratamento de câncer.
Hipócrates, considerado o “Pai da Medicina”, já dizia: “Que o teu alimento seja o teu remédio e o que o teu remédio seja o teu alimento”.
As medidas preventivas mais importantes para o câncer associados à obesidade são baseados na modificação do estilo de vida, dietas que levam à perda de peso, terapia nutricional e cirurgia bariátrica. A perda de peso intencional tem sido relatada diminuir a incidência de câncer em mulheres, especificamente cânceres de mama e endométrio na pós-menopausa.
Mas assim como o câncer tem vários fatores causais, que muitas vezes atuam em conjunto para que a doença se manifeste, temos que utilizar de diferentes armas para evitar o surgimento de um câncer. Portanto, as dicas mais preciosas e que estão ao alcance de todos nós, mas que muitas vezes irá requerer mudança de hábitos e persistência para isso são:
- Praticar exercícios físicos regularmente!
- Não permitir que o tabaco exista na sua vida!
- Evitar o álcool.
Manter um peso saudável com um padrão alimentar rico em hortaliças, frutas, sementes oleogenosas, azeite, fibras e cereais integrais, e evite alimentos embutidos, processados e produtos de origem animal cheios de ácidos graxos saturados e colesterol.
Autor: Flávia Maria Ribeiro Vital
• Especializada em Avaliação Tecnológica em Saúde pela UFRGS
• Doutora em Ciências pela UNIFESP, ênfase em Saúde Baseada em Evidências
• Especialista em Fisioterapia Oncológica
• Autora do livro “Fisioterapia em oncologia: protocolos assistenciais”
• Tem experiência como professora-orientadora em Pós-graduação Stricto-sensu na UNIFESP, USP e UFV
• Diretora da Vital Knowledge
• Diretora do Centro Afiliado de Minas Gerais ao Centro Cochrane do Brasil
• Professora e coordenadora de Pós-graduações Lato-sensu em Oncologia em diversas Universidades